O MURO.
É um velho paredão, todo gretado¹,
Roto² e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensangüentado;
E num pouco de musgo em cada fenda
Serve há muito de encerro a uma vivenda³;
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo essa missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado.
Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão de estrela
Toda de um vago cintilar de prata.
E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.
(Alberto de Oliveira)
1 gretado: rachado. 2 roto: danificado. 3 vivenda: pequena casa de campo.
Quanto aos tipos de complementos requeridos, o verbo
“deixou” (1.a estrofe) é semelhante ao verbo da oração:
a) O filho daquele casal fica feliz em qualquer lugar.
b) Maria Cristina chutou com força a parede e o medo.
c) Quarta-feira da semana passada não choveu muito.
d) Emprestei por dois dias minha namorada a um inimigo.
e) Antonio Carlos leu milhares de livros ruins e inúteis.
Resposta: D
Os versos em que está o verbo deixar estão em ordem
indireta (hipérbato) e para analisar as relações
sintáticas é necessário colocá-los em ordem direta: o
tempo deixou uma oferenda ao velho paredão (a que)
num cacto em flor ensanguentado. Assim, “o tempo”
é sujeito; “uma oferenda”, objeto direto; “a que”
(pronome relativo que retoma “velho paredão”)
funciona com objeto indireto e “num cacto em flor
ensanguentado” é adjunto adverbial. A mesma
estrutura sintática ocorre em “Emprestei por dois dias
minha namorada ao inimigo”, em que “minha
namorada” é objeto direto; “a um inimigo” é objeto
indireto e “por dois dias” é adjunto adverbial.