Leia o poema de Claudio Manuel da Costa
Pastores, que levais ao monte o gado,
Vede lá como andais por essa serra,
Que para dar contágio a toda a terra
Basta ver-se o meu rosto magoado:
Eu ando (vós me vedes) tão pesado,
E a Pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma que em seu semblante encerra
A causa de um martírio tão cansado.
Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas, não; tanto não sou vosso inimigo:
Deixai, não a vejais, eu vo-lo imploro;
Que se seguir quiserdes o que eu sigo,
Chorareis, ó Pastores, o que eu choro.
(Domício Proença Filho (org.). Roteiro da poesia brasileira, 2006.)
Claudio Manuel da Costa é um poeta amplamente associado
ao Arcadismo. No poema, uma característica dessa escola
literária está expressa:
a) na descrição do impasse entre dois mundos igualmente
imperfeitos, a tediosa vida dos pastores e as desventuras da vida amorosa.
b) na utilização da temática pastoril, contrapondo a vida
tranquila dos pastores ao sofrimento e à desilusão
amorosa do eu lírico.
c) no retrato da vida pastoril como tediosa em relação aos
atributos positivos da vida urbana e à intensidade do
sentimento amoroso.
d) na configuração de um momento de indecisão entre
dois mundos inconciliáveis, a tranquilidade do campo
e a vida agitada nas cidades.
e) no elogio à vida bucólica de um eu lírico integrado ao
campo, em um cotidiano simples, pleno de pequenas
recompensas.
O tema pastoril é uma das características centrais do
Neoclassicismo ou do Arcadismo, que busca na simplicidade da vida campestre o equilíbrio existencial, a
tópica da fugere urbem e da aurea mediocritas (a idade
do ouro ou mediania do ouro). A Natureza idealizada é
o locus amoenus onde se situam os encontros amorosos.
Ressalve-se que a poética de Cláudio Manuel da Costa
apresenta uma tensão, uma angústia em que se notam
resquício do desengano barroco e prenúncio do
Romantismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
OBRIGADO PELO COMENTÁRIO!