A depressão, tão em voga em nossos dias quanto foi a histeria nos tempos de Freud, é uma expressão da dor psíquica que desafia todas as pretensões da ciência de programar a vida humana na direção de uma otimização de resultados. Fatia de mercado disputada pelos laboratórios farmacêuticos, os depressivos formam um grupo desunido e incômodo a desafiar, ainda que inadvertidamente, a norma do bem-estar predominante nas sociedades ditas avançadas: estas que se tornaram incapazes de refletir sobre a dor de viver. Estas que, convencidas de que a riqueza se mede pela abundância de mercadorias em circulação, tornaram-se incapazes de tolerar a falta, de criar estéticas para o vazio, de usufruir da lentidão e vislumbrar o saber contido na tristeza.
A experiência da depressão talvez prove que algo no humano resiste à aliança entre tecnologia e publicidade, assim como às novas formas de credo que elas promovem. Do homem, sabemos, a máquina de moer carne capitalista aproveita até o berro: os depressivos, porém, não oferecem nem isso. Os depressivos não berram. Seu silêncio, seu recolhimento, sua falta de interesse por todas as ofertas do gozo em circulação, fazem do depressivo a expressão do sintoma social contemporâneo. O depressivo, como no verso do poeta suicida Torquato Neto, desafina o coro dos contentes nestas primeiras décadas do século XXI. (Adauto Novaes (org.). Mutações, 2008. Adaptado.)
a) os depressivos tornaram-se, ainda que involuntariamente, insensíveis ao próprio sofrimento.
b) as sociedades ditas avançadas demoraram a se desvencilhar da ideia de riqueza enquanto abundância de mercadorias.
c) as sociedades ditas avançadas impuseram a seus cidadãos uma espécie de exigência de bem-estar.
d) os depressivos, ainda que de modo pouco articulado, desafiam os interesses dos laboratórios farmacêuticos.
e) os depressivos, na medida em que buscam se adequar às normas sociais, acabam colaborando para o próprio sofrimento.
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