Pode-se admitir que a experiência passada dá somente
uma informação direta e segura sobre determinados
objetos em determinados períodos do tempo, dos quais
ela teve conhecimento. Todavia, é esta a principal questão
sobre a qual gostaria de insistir: por que esta experiência
tem de ser estendida a tempos futuros e a outros objetos
que, pelo que sabemos, unicamente são similares em
aparência. O pão que outrora comi alimentou-me, isto é,
um corpo dotado de tais qualidades sensíveis estava, a
este tempo, dotado de tais poderes desconhecidos. Mas,
segue-se daí que este outro pão deve também alimentar-me
como ocorreu na outra vez, e que qualidades sensíveis
semelhantes devem sempre ser acompanhadas de poderes
ocultos semelhantes? A consequência não parece de
nenhum modo necessária.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano.
São Paulo: Abril cultural, 1995
O problema descrito no texto tem como consequência a
a) universabilidade do conjunto das proposições de
observação.
b) normatividade das teorias científicas que se valem da
experiência.
c) dificuldade de se fundamentar as leis científicas em
bases empíricas.
d) inviabilidade de se considerar a experiência na
construção da ciência.
e) correspondência entre afirmações singulares e
afirmações universais.
O fragmento de texto descreve o ceticismo de David Hume, que o impede de afirmar a ocorrência futura de fatos simplesmente porque eles ocorreram e até se repetiram no passado. Daí sua formulação: “a Natureza tem hábitos”, mas não há garantia empírica de que eles irão se repetir no futuro. Sendo assim, as leis científicas apresentam uma fragilidade intrínseca.