A Praça da Alegria apresentava um ar
fúnebre. De um casebre miserável, de porta e janela,
ouviam-se gemer os armadores enferrujados de uma rede e
uma voz tísica e aflautada, de mulher, cantar em falsete a
“gentil Carolina era bela”, doutro lado da praça, uma preta
velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo,
seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de
moscas, apregoava em tom muito arrastado e melancólico:
“Fígado, rins e coração!” Era uma vendedeira de fatos de
boi. As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume
de cavalgar as ilhargas maternas, as cabeças avermelhadas
pelo sol, a pele crestada, os ventrezinhos amarelentos e
crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel. Um ou outro branco, levado pela necessidade de sair,
atravessava a rua, suando, vermelho, afogueado, à sombra
de um enorme chapéu-de-sol. Os cães, estendidos pelas
calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos,
movimentos irascíveis, mordiam o ar, querendo morder os
mosquitos.
Aluízio de Azevedo. O mulato.
Algumas características do texto acima, como preocupação
com a observação e a análise crua da realidade, o esmero ao
configurar para o leitor a miserabilidade do quadro físico e
humano de uma cidade pobre, levaram estudiosos a
classificá-lo como iniciador, entre nós, do movimento
literário denominado:
a) Arcadismo.
b) Naturalismo.
c) Simbolismo
d) Romantismo.
e) Classicismo.
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